travessurasjp

Ou a gente escreve ou essas coisas vão ficar perdidas no tempo para sempre. Eu costumo dizer que as coisas e os fatos existem enquanto nos lembramos deles. Quando não há mais quem se lembre, eles simplesmente desaparecem, e é como se nunca tivessem existido. Aqui ficam registradas portanto, algumas façanhas do pequeno João Pedro, hoje com 15 anos, meu irmãozinho caçula tão querido e extremamente paparicado. Os posts vão até o ano de 2004, quanod o JP tinha 6 anos.

Sunday, May 18, 2003

PAERMA?!?

Sim, JP certa vez saiu com essa pra cima de vovó:
"Vó, você é uma paerma de parência estúpida!"
Se ele tem alguma idéia do que falou, ninguém sabe. A verdade é que a vó riu-se tanto que se ele intentava ofensa certamente frustrou-se.

LINGUAGEM

Uma das coisas mais gostosas de se fazer, quando se tem filhos, sobrinhos, primos ou irmãos pequenos é acompanhar seu crescimento, especialmente nos primeiros anos de vida, quando tudo são descobertas e conquistas. De todas essas conquistas acho especialmente interessante o processo de aquisição da linguagem; o desenvolvimento do vocabulário e da articulação lógica de suas frases.
Tem a fase em que se trocam as letras e as sílabas, e também aquela de simplesmente repetir o que ouvem sem ter a menor idéia do que signifique. Mais tarde querem saber o que é cada palavra nova e começam a falar umas coisas meio estranhas, na tentativa de conectar frases e utilizar conjunções e advérbios de maneira que façam sentido. Nem sempre são bem sucedidos.

Aqui vão alguns episódios de produtivas conversas com meu JP:
Passeando na biblioteca encontrei um opúsculo sobre Piaget. Fiquei fascinada. Tinha lá uma seqüência de perguntas feitas a uma criança de seis anos. Eu utilizei-as com JP:
“JP, posso te perguntar uma coisa bem séria?”
“Pode,” disse com ares de garoto responsável.
“O cachorro é um animal?”
“É sim.” Respondeu todo feliz e orgulhoso.
“hum... muito bem! Mas... o que é um animal?”
Seu sorriso tornou-se meio confuso e embaraçado; seus olhinhos pareciam me pedir ajuda, com que revelando a frustrada tentativa de encontrar palavras para definir uma coisa tão bem conhecida dele, “Não sei,” rendeu-se por fim.



E aqui vai a grande frustração da irmã:
“Vika, Depois de amanhã você vai viajar, é?”
“É.”
“E depois... e depois de hoje a gente vai pra praia?”
“ ‘Amanhã’, guri, a gente não fala ‘depois de hoje’, fala ‘amanhã’. Vamos amanhã pra praia sim.”
“Amanhã é depois de hoje?”
“Isso!”
... silêncio “Vika... Vika, depois de hoje a gente vai...”
“ ‘Amanhã’, guri! É ‘amanhã’! Não se fala ‘depois de hoje’, se fala ‘amanhã’, valeu?”
... Novo silêncio. Ele retoma um pouco impaciente e absolutamente irredutível. “DEPOIS DE HOJE! Depois de hoje a gente vai pra praia ou pro cinema?” Irmã baixa a cabeça reconhecendo a total derrota em corrigir o pirralho. Nesse momento, para seu total desespero, ouve novo diálogo travado com a avó.
“Vó, depois de hoje a gente vai pra igreja ou pra praia?”

E que tal a total incapacidade de encadeamento lógico revelada por essa criança ao construir frases em momentos de raiva?
Vi: “Chegar em casa a gente vai pra... caminha!!!!”
JP: “Não vou!”
Vi: “Ah, vai sim.”
JP: “Por quê?”
Vi: “Porque ta na hora de mimi, e você ta caindo de sono. E eeee... porque eu sou sua irmã mais velha e você tem que me obedecer. Quando eu digo cama é cama.”
Muitíssimo exaltado, aquele pingo de gente que se acha muita coisa retruca com todo ar de seus pulmões: “NÃO VOU PRA CAMA PORQUE VOCÊ É FEIA! E TAMBÉM PORQUE EU NÃO GOSTO DESSE CARRO!” Eu bem que quis soltar uma gargalhada, ao invés disso fiz um comentário em palavras ininteligíveis a ele (pelo menos por enquanto) e ameacei, “Vamos ver quem não vai pra cama quando chegar em casa.”

Engraçado é quando eu não quero que ele entenda alguma coisa e falo em inglês, italiano ou espanhol. Outro dia estávamos comentando sobre um assunto relacionado a ele e chegamos a um ponto que eu realmente não queria tratar diante de seus ouvidos. Falei em inglês com a tia Léa.
“Tu falou inglês,Vi?”
“Falei, guri.”
“Fale em português aí, pra eu entender.”
“Eu não.”
“Por quê?”
“Porque eu falei justamente para você não entender.”
“Ah, vi!!!! Fala em português pra eu entender!!!!”
“Tu quer entender, guri?”
“Quero.”
“Aprenda a falar inglês.”
Digamos que ele não ficou muito contente com meu conselho e, cruzando os braços, disparou, “Eu odeio essa irmã.”

Outro dia, fins de 2002, eu estava em casa de mãe com JP e a babá nova que gritou desesperava ao vê-lo sair do banho direto pro meu quarto.
“João, vem botar a sandália pra não ficar com o pé chujo!”
JP cai em uma gostosa gargalhada.
Lá vem a babá com as alpercatas na mão. “Tô falando serio, minino, vai ficar com o pé todo chujo!”
JP continua a sorrir olhando pra mim. A babá acha que ele não está querendo obedecer. “Se não botar a sandália eu vou contar pra sua mãe que vc ficou com o pé chujo!”
E JP por fim corrige: “Não é CHUJO! É SUJO!”
A pobre babá, sem perder o rebolado: “Ah, tanto faz! Fica tudo da mesma cor.”
Claro que eu quis rir, mas não seria muito amigável de minha parte, certo? Agora só pra me vingar de não poder ter soltado aquela gargalhada, eu conto pra todo mundo!!!!!

ROUPA DE FICAR EM CASA?!?!

Verão de 2003. Casa da ilha. Tia Léa sai para comprar pão. João Pedro e eu ficamos em casa comendo pizza e assistindo Carrossel 2. Tia Lea volta. Está com um vestidinho daqueles de casa de praia, nada muito chique.
Do alto de seus seis anos de idade, JP arregala os olhos e dispara com ar de censura:
“Roupa de ficar em casa!?!?”
“É. Por quê?”
“Você foi pra rua com roupa de ficar em casa?!?!?!”
“Fui.”
“Você saiu do carro assim?!?!?!”
“Saí.”
O pequeno leva a mão à testa num ato de desespero:
“Ai, não deixaram ela entrar na loja!”

Esclarecendo: algumas pessoas me perguntam se as historinhas sobre meu mano são verídicas. “Mas você não inventa nada? Pra ficar mais engraçado?” Palavra de honra – não. Quem já acompanhou de perto uma criança sabe: elas nos surpreendem com o que dizem ou fazem. Por isso faço questão de ser o mais fiel possível, e reproduzir fatos como realmente se deram.
J P não é uma criança sobrenatural ou um mini-gênio (ao menos ainda não fizemos um teste de QI). Ele é apenas uma criança. Uma criança extremamente especial para mim (sou irmã-coruja, ele é o mais fofo, o mais gato, o mais inteligente, o mais doce, o mais pé-no... – opa, abafa), mas uma criança como qualquer outra. E justamente por isso é tão interessante.



Tenho que confessar – há momentos em que quero pegar JP, maniatá-lo, amordaçá-lo e gritar, “Larga do pé, seu insuportavelzinho!!!! Eu não agüento mais nem olhar pra tua cara!!!!!!!” Bem, vocês vão entender o que quero dizer: fazem idéia do que é passar o dia (não uma manhã, uma tarde, mas o dia inteiro) com uma pessoa que de 10 palavras que fala, 11 são o seu nome? Só ao som da palavra “Vikinhaaa!!” eu estremeço.
“Vikinha quer ler um pouco, meu filho”, “Vikinha quer estudar agora, viu?”, “Meu amor, Vikinha precisa tomar banho”, “Olha, Vikinha está pagando o táxi agora, tá bom?”, “Você deixa Vikinha telefonar, pelo amor de nossa senhora?”.
Isso não é nada, tem dias que ele acorda com a macaca. Eu fico tentando descobrir onde será o botão on/off, ou o compartimento das baterias (que devem ser Duracel).
“JP, não mexa nisso”.
“JP, não vá pra longe”.
“JP! Fale baixo! Que falta de educação!”.
“Amor, é mais bonito comer de boquinha fechada, viu!”.
“Criança!!! Para de pular ao meu redor! Estou ficando tonta”.
“Você vai cair aí de cima, menino! GUARDA ROUPA NÃO FOI FEITO PRA ESCALAR!” (aqui eu tenho q admitir q dou mau exemplo)
“EI, EI, EI, EI!!!! NÃO!!! O BRAÇO DELA NÃO VIRA PRA ESSE LADOOOO !!!”
E descobri que tem horas que quando o chinelo canta a coisa funciona melhor.

Claro, no fim do dia, quando a criança dorme, limpinha, cheirosinha (depois do trabalhão que deu pra jogá-la no chuveiro) com um sorriso estampado na cara, a gente pensa, “parece um anjinho!” Ou então fazemos coro com Ziraldo “Esse menino é tão maluquinho!”
Mas não seria preocupante se o guri não fosse nem um pouquinho levado da breca? Afinal de contas, a alegria característica dos molequinhos tem que ser extravasada, não é? A gente briga, ralha, bate, mas no fundo a gente sabe que antes assim. E, como a mãe do comercial da vacina, num suspiro, resumimos a situação: “Graças a Deus.” E mais uma vez faço minhas as palavras do Ziraldo. “Um dia o menino cresceu... e todos descobriram que ele não tinha sido um menino maluquinho, ele tinha sido um menino feliz.” Vai menino, ser travesso na vida.
Janeiro 2003